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Meninos, meninas, o azul e o rosa.

   Ter um filhos é, talvez, o maior presente que a vida nos dá. Certamente a maior fonte de felicidade é ser pai ou mãe. Aquela cabecinha cheirosa quase sem cabelo, enquanto adormecem tranquilos em nosso peito. Enquanto eles sobem e descem, em sono profundo, acompanhando a nossa respiração, decidimos que queremos o melhor para eles, desejamos a eles até mesmo o sucesso que não tivemos.
   Na função de orientadores somos extremamente importantes para o sucesso e a felicidade futura dos nossos filhos. Com certeza não queremos limitar o desenvolvimento deles. Mas muitos pais, em seu excesso de zelo, se tornam controladores demais e acabam impedindo o desenvolvimento natural dos filhos. Os forçam a comer o que não querem e uma quantia que não querem; muitos pais enchem o quartos dos filhos emblemas do "curíntias" para induzir os filhos a gostarem de seu time preferido.

  Mas, brincadeiras à parte, fazem também algo lamentável: ralham, castigam ou até batem nos filhos, caso peguem eles brincando com brinquedos considerados "do sexo oposto." Ou demonstrem interesse pela cor "do sexo oposto." Esses pais não imaginam o mal que fazem aos seus filhos, e não estou aqui querendo promover a agenda LGTB, estou alertando que esses conceitos de "coisa de menina" e "coisa de meninos" não influenciam em nada na orientação sexual dos filhos no futuro, mas podem impedir que aproveitem todo o potencial natural deles, suas habilidades naturais. Enfim controlar o que a criança deve ou não gostar não influencia nas suas escolhas sexuais no futuro, mas o efeito real é bloquear os talentos dos filhos.

Brinquedos infantis não estão relacionados à sexualidade

   As funções sexuais humanas tem um tempo certo para acontecer, e é a puberdade. É quando o corpo descarrega os hormônios sexuais e o indivíduo começa a amadurecer sexualmente. Tanto é que crianças pequenas normalmente nem ligam para crianças do sexo oposto, muitas tem até uma espécie aversão.. ah mais depois da puberdade a coisa muda muito.
  Assim sendo, a criança não está nem aí para assuntos sexuais, ela deseja o que interessa aos seus sentidos. Ela deseja o brinquedo que ela vê que estimula sua imaginação, e esse estímulo é uma demanda do cérebro.
  Sabemos que brincadeiras não são brincadeira, por assim dizer. Elas tem a função de desenvolver habilidades nas crianças, que elas usarão na vida adulta.
  Podem até haver pesquisas, que apontam diferenças no cérebro masculino e feminino. Mas essas pesquisas sempre falam de porcentagem. Uma porcentagem maior do cérebro masculino funciona assim, uma porcentagem maior do cérebro feminino funcionado assim. Há sempre um desvio da norma, e isso nada tem a ver com a homossexualidade. São pais mais carinhosos, são mulheres boas em matemática, homens chefs de cozinhas, mulheres engenheiras, homens com senso de estilo (os caras do tipo fashion) e assim por diante.
  Na realidade, embora possa ser observado uma tendência de homens engenhosos e mulheres afetuosas, cada cérebro é como a impressão digital, é único. Se o cérebro é único, a demanda por estímulo no cérebro de uma criança também é única. Não espere que a demanda por brincadeiras de uma criança atenda ao estereótipo que você forma. O mundo não é feito ortodoxamente de homens engenheiros e mulheres afetuosas. Seu filho, mesmo menino, pode ter um talento para cozinhar, para a dança, a música, a moda; e uma menina pode ter talento para engenharia, matemática, esportes, administração.
  As brincadeiras "de meninos" e as brincadeiras "de meninas" até mesmo após a puberdade nada tem a ver com a sexualidade. Com o que tem a ver então? Com o desenvolvimento de funções cerebrais: brinquedos "de meninos" desenvolvem a função de visão espacial, necessária para engenheiros; profissão típica masculina. E as bonecas desenvolvem a função afetiva, típica para mães, professoras, veterinárias… etc. Você vê essa divisão na realidade adulta de homens e mulheres héteros? Pais são pouco afetivos com os filhos? São sempre exclusivamente engenheiros? Mulheres são sempre babás, professoras e veterinárias? Não.
  Se você pensa que o brinquedo de uma criança influencia ou indica a sexualidade dela, você se surpreenderia se soubesse que a maior parte dos gays brincaram com carrinho, power ranger e espada e tiveram um quarto todo azul quando crianças. E que muitas mulheres gays eram meninas melindrosinhas que tinham mesinha de chá, bonecas "naninha" e coleção de ursinhos.

O perigo de negar o interesse natural da criança

   Como vimos, cada criança demanda estímulos diferentes. Negar esse estímulo, ainda por cima com broncas ou castigos, resultará no bloqueio ao desenvolvimento da criança. Pense na época que o canhotismo era considerado bruxaria, e as crianças canhotas eram forçadas a usar a mão direita. Tentar controlar o que a criança tem que gostar e fazer pode significar tudo o que um pai não quer para os filhos, o fracasso na vida. Depois de tanto controle dos pais, uma criança, ao crescer, pode levar muito tempo para descobrir seus verdadeiros talentos e ingressará em uma carreira diferente de suas melhores capacidades, talvez até seguindo estereótipos aprendidos com os pais, e isso a levará ao fracasso. Talvez o filho descubra tarde demais seus talentos, sem muito tempo para investir em uma carreira.
   Se você tirar uma flor da mão de um menino, porque "florzinha é coisa de menina," você pode estar bloqueando um futuro botânico. Já pensou que pode estar bloqueando o talento natural de seu filho para um arquiteto por não permitir que ele brinque com a casa da Barbie da irmãzinha?
   Enquanto os pais estão com uma preocupação boba com a sexualidade da criança, que em tal tenra idade é uma preocupação ridícula, eles podem estar negando á criança a demanda natural de desenvolvimento do cérebro dela.

Melhor do que carrinho e boneca

   Ao prestar mais atenção aos interesses das crianças, pode se fazer muito mais por uma criança que expresse um interesse diferente do esperado do que simplesmente comprar uma Barbie para um menino ou o "bátima" para a menina.
  Na verdade, dificilmente você vai ver um menino com tendências ao lado afetivo do cérebro, esperneando no chão por uma boneca. Nem uma menina pedindo uma bola. Crianças em tenra idade são imaginativas, elas demonstrarão essa tendência com criatividade. Você verá um menino nanando seu ursinho ou então pegando uma abóbora na fruteira e dizendo que é "seu nenê." Essas brincadeiras digamos, não-industriais, são muito saudáveis e devem estimuladas. Melhor que boneca e carrinho.
  A criança está estimulado sua imaginação, sua capacidade de improviso. O importante é não tentar ter o controle sobre a brincadeira do filho. Por exemplo, não compre uma boneca pro seu filho só para tentar fazer ele se tornar um pai mais carinhoso. Como vimos, a criança supre essa falta de brinquedos interessantes para ela com a criatividade, o que é ótimo.
   Mas e se o menino ver uma boneca no supermercado e se interessar, ou uma menina começar a chutar uma bola?

O interesse incomum das crianças pode não ser o que parece.

   Outra demanda do cérebro é o desenvolvimento da percepção. A visão, o olfato, o tato e assim por diante. Então uma boneca de cabelo vermelho e brilhante pode chamar a atenção de um menino exatamente pelo vermelho e pelo brilhante. Se os pais acharem um tanto constrangedor comprar a boneca para o filho podem propor outro brinquedo com as mesmas características que atraiu o menino. Que tal um troll?
   Pelo mesmo motivo, de despertar os sentidos, um menino pode se interessar pelos brinquedos da amiguinha: uma mesinha de chá, a casinha de boneca, coisas mais cor-de-rosa… é um universo diferente para o menino explorar. A espécie humana é exploradora por natureza e é ótimo que exista um universo azul masculino e um universo rosa feminino. Não acho interessante desconstruir isso, acho que ambos os universos, os quartos, devem existir mas estar acessíveis para meninos e meninas. Meninos um dia precisarão explorar o universo feminino para se relacionar melhor com a esposa e meninas idem.  Meninos e meninas que aprendem a brincar juntos, na realidade, terão uma facilidade maior com o sexo oposto no futuro.
   Agora pense em um pai que só compra bátima musculoso, bonecos soldados, sem camisa e de barriga tanquinho para o seu filho brincar; e fecha-o no universo masculino. Talvez a consequência disso será o inverso do esperado.

Sissygirl e Tomboy

   Existem crianças que fazem mais do que querer brincar com brincadeira do sexo oposto. Adotam um comportamento do sexo oposto. Nos EUA existem dois termos, com difícil tradução para o português, para denotar crianças que se desviam do comportamento típico de seu próprio sexo. Tomboy para uma menina com jeito de menino e Sissygirl para um menino com jeito de menina.

   Chamar uma menina que gosta de subir em árvore, cavar buraco e jogar futebol de "Tomboy" não tem o sentido de dizer que ela é lésbica; também, chamar o menino com jeito delicado, mais sensível, fácil de ser magoado, de "Sissygirl" não tem o sentido de dizer que ele é gay; por isso a tradução dessas palavras é complicada. Sendo "Sissygirl" com uma carga pejorativa maior, aproximando-se do termo "maricas" em português.
   E se a criança apresenta um comportamento visivelmente oposto ao sexo que nasceu? Tem a ver com a sexualidade? Deve ser reprimido ou castigado?
  Adotar um comportamento é, muitas vezes, seguir referências. Toda a criança tem referências masculinas e femininas e isso é importante para ela desenvolver uma personalidade mais completa. Meninas que são Tomboy ou meninos que são Sissygirl não se comportam assim por "safadeza", como diriam muitos pais; e sim pela falta de boas referências do seu próprio sexo, ou por uma referência forte demais do sexo oposto. A palavra Sissy é uma abreviação de Sister, ou "irmã", o que já indica umas das explicações para meninos afeminados: crescerem com uma irmã mais velha, ou em meio a muitas irmãs... um excesso de referências femininas. Já as meninas Tomboy não raro são fortemente ligadas ao pai que tem uma personalidade forte.
   Tomboy e Sissygirl são indicativo de homossexualidade? É fácil imaginar um menino Sissy um futuro gay, mas comportamento e sexualidade são duas coisas distintas, que podem coincidir ou não. Existem homens que são Sissygirl até hoje mas tem esposa e filhos. Existem Tomboys que se casam, não raro com um cara parecido com elas ou com o pai delas, e hoje o casal tira um "contra" no campinho do bairro.
   A identidade de gênero desses meninos Sissygirl e dessas meninas Tomboy, são do sexo oposto. O que significa dizer que se identificaram mais com as referências que receberam do sexo oposto do que com as referências do mesmo sexo. Mas a identidade de gênero não esta diretamente relacionada com a orientação sexual. Não é um meio confiável de determinar qual será a futura escolha sexual da criança.
   Reprimir esse comportamento, castigar, dizer que é safadeza... não é a forma saudável de agir. Pode gerar um adulto confuso em sua sexualidade, porque não lhe foi permitido explorar as referências de comportamento que recebeu e criar sua própria personalidade. Uma pessoa confusa em sua sexualidade, que teve seu comportamento erroneamente relacionado à sua sexualidade pela criação dos pais é ainda pior. Ao crescerem, podem acabar pensando que são homossexuais, quando não são. E essa confusão certamente será motivo para frustração constante.
  Se o comportamento da criança for algo que seja digno de preocupação, a melhor alternativa é buscar o auxílio da terapia psicológica. Para identificar as razões do comportamento e ajudar a criança sem reprimi-la.

Quando a brincadeira torna-se suspeita

   Mas existe um problema ainda mais sério do que brincadeiras incomuns, e mais séria  do que  Tomboy ou Sissygirl.

   O que fazer se a criança começa a fazer brincadeiras bastante suspeitas? Como um menino ter um interesse frequente em passar batom? Se a brincadeira que a criança anda fazendo for excessivamente contrária ao seu sexo, isso pode ser indicativo de transtorno de identidade de gênero.
   O transtorno de identidade de gênero é causado por se identificar tanto com as referências do sexo oposto a ponto de sentir disforia com seu próprio sexo. Pessoas com disforia de gênero podem ficar assim pelo resto da vida, a disforia não some nem com mudança de sexo.
   Mas os pais podem fazer alguma coisa para ajudar a criança que demonstra indícios desse transtorno. Às vezes o transtorno de identidade de gênero é causado simplesmente pela criança achar o outro sexo mais legal, quase sempre estando relacionado ás roupas e ao jeito de se arrumar. Um menino pode ver como a sua mãe fica mais bonita depois que passa batom e, em uma vaidade confusa, começar a imitá-la.
    Diferente do que dizem esses pseudointelectuais mundo afora, muitos com diploma, tristemente, incentivam os pais a apoiarem a disforia do menino, arrumando-o como menina desde cedo, e com meninas o inverso… o melhor caminho a se tomar, no entanto, é mostrar à criança que é possível se sentir bem com seu próprio corpo. Incentivar a criança a buscar algo inalcançável, ser do sexo oposto, fadará ela a ficar eternamente frustrada, dando a ela um objetivo caro e inalcançável.
   Acho que a verdadeira solução é passar as referências masculinas e femininas de forma mais saudável. Ás vezes o pai é meio desleixado e o menino é vaidoso demais para seguir sua referência. O pai pode tentar se arrumar mais, ficar mais fashion, mostrar que um homem também pode se expressar por meio da moda. Comprar um sapato bem legal para o menino, deixa-lo escolher suas próprias roupas, incentivá-lo a se vestir bem elegantemente, sem excessos, como menino. O mesmo vale para meninas, incentivá-las a vestir roupas de menina elegantes, sem excessos.

   Independente se essas sugestões derem resultado ou não, não se esqueça de também buscar acompanhamento profissional.

   Mas quando a brincadeira é uma demanda do desenvolvimento da criança é saudável permiti-la, para ela ser livre para brincar com o brinquedo que ela se interessou. Se o comportamento dela desviar um pouco da norma, a repressão não é nada recomendável, mas dar a criança escolha semelhante dentro do que é aceitável para o sexo dela, pode ajudá-la a ter um desenvolvimento saudável, inclusive nos casos mais graves como transtorno de identidade de gênero.
   Agora preocupações bobas que os pais tem com respeito a essa divisão padronizada, azul para meninos, rosa para meninas (meninas tendem a enjoar bem mais rápido dessa cor), brincadeira de menina, brincadeira de menino, podem bloquear o desenvolvimento e o auto conhecimento da criança, impedindo-a de ser alguém de sucesso no futuro. São implicâncias tolas dos pais que podem trazer sérias consequências.
   Que perigo para o seu filho brincar de ninar bonecas… acabar pegando uma criança no colo no futuro… nossa, terrível! E o perigo da sua filha brincar de carrinho… dirigir um carro quando adulta… que horror! Que dizer do seu filho brincando com a prima na casa da Barbie… ele pode acabar tendo a própria casa no futuro… traumatizante?

   O autor desse artigo, Fernando Vrech, também é escritor e tradutor, inclusive de literatura infantojuvenil!

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